quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

DESTINO TRÁGICO DE QUATRO MÉDICIS CAMPANHENSES

O DESTINO TRÁGICO DE QUATRO MÉDICOS CAMPANHENSES


A vida reservou a quatro ilustres médicos Campanhenses, filhos de tradicionais e conceituadas famílias da cidade, um destino cruel.O primeiro foi o Dr. Gaspar José Ferreira Lopes, nascido na Campanha em 1817, filho do Comendador e Emérito cidadão, Francisco de Paula Ferreira Lopes, comandante da Guarda Nacional.Dr. Gaspar formou-se em medicina pela Faculdade Médica do Rio de Janeiro, em 1842, com 25 anos de idade, com raro brilhantismo. Tinha talento necessário para vencer na nobre profissão que escolhera.Contudo, a Providência Divina, em seus desígnios insondáveis, não permitiu, porém, que se realizassem essas auspiciosas esperanças. O moço, que no limiar de sua carreira se antevia como promissora e nem sequer chegou exercê-la, foi dura e impiedosamente estigmatizado por uma doença terrível, na época sem cura: a lepra.Ainda viveu por algum tempo isolado no solar de sua família, onde faleceu no dia 14 de março de 1846, aos 29 anos de idade. O segundo a ter um fim trágico foi Dr. Thomaz Henrique Tanner. Após concluir o curso de humanidades na terra natal, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, cujo curso freqüentou com eficiência e assiduidade, formando-se com brilhantismo, no ano de 1859.Após exercer a sua profissão em Campanha, habilitou-se na corte como oficial médico da Marinha Brasileira. Entretanto, não foi feliz o jovem profissional médico Campanhense. A corveta brasileira Dona Isabel, em uma viagem de instrução, naufragou, entre a cidade de Marselha e Lisboa, em conseqüência de um violento temporal, próximo ao cabo Espartel, morrendo 22 oficiais de marinha, 11 membros da equipagem e 2 médicos de bordo, entre os quais o Dr. Thomaz Henrique Tanner. Assim, terminou, de modo tão doloroso, a vida desse jovem médico campanhense.Também foi marcado pelo infortúnio o conceituado médico, Dr. João Dias Ferraz da Luz, Campanhense, integrante de uma família de homens ilustres, famosos pela cultura e pelo caráter.Depois de ter feito os estudos preparatórios na terra natal, matriculou-se Ferraz da Luz na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, formando-se, com raro brilhantismo, em 1844.Clinicou com sucesso e competência em Campanha e foi eleito deputado, em 1857 e 1860, decorrente de seu grande prestígio político.Transferiu-se, anos depois, com a família, para a próspera cidade paulista de Itu, onde se impôs desde logo, à estima e a admiração de todos, como cidadão e profissional competente e, sobretudo, caridoso.No ano de 1870, teve um fim trágico que abalou toda a cidade, ao ser assassinado, ou melhor dizendo, trucidado, juntamente com suas duas filhas, uma senhora idosa e um escravo doméstico, pelo o seu outro escravo doméstico de nome Nasário, a golpes de machado.A multidão revoltada e enfurecida, da pacata cidade de Itu, arrancou da prisão o monstruoso assassino e o linchou sem hesitação e piedade.Outro médico campanhense, Ciro Sales Brandão, meu primo, trineto do Comendador Francisco de Paula Ferreira Lopes, filho de João Chrisóstomo Ferreira Brandão e Dona Ana Sales Brandão, a Donana, educadora exemplar, que por vários anos lecionou com extrema e modelar dedicação no Grupo Escolar Zoroastro de Oliveira. Foram várias as gerações de alunos que passaram pela dedicada Donana.Ciro, como era conhecido, após concluir seus estudos em Campanha, foi para Rio de Janeiro, onde fez o curso preparatório, ingressando, posteriormente, na faculdade de Medicina da Praia Vermelha, da Universidade do Brasil, após ser aprovado no exame de seleção. Mal tendo chegado a clinicar, foi acometido de um tumor no cérebro, vindo a falecer ainda jovem, no Rio de Janeiro, onde foi operado.

Outro grande médico Campanhense colhido pela fatalidade foi o ilustre Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior, nascido a 23 de junho de 1860, filho do insigne Desembargador João Bráulio Moinhos de Vilhena e de dona Manoela Augusta Capistrano de D'Alkmim de Vilhena.
Por se tratrar de meu avô paterno, trancrevo aqui o texto sobre o Dr. João Braulio Júnior, escrito pelo saudoso amigo, Dr. Antonio Casadei.

Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1886, além de profissional de reconhecida competência, era jornalista brilhante, político de grande prestigio, orador fluente e parlamentar respeitado e atuante.Em 1893, foi eleito deputado, tomando parte na sessão legislativa desse ano e do seguinte do Congresso do Estado de Minas Gerais. Voltou a ser eleito nas legislaturas de 1903 e 1906, tendo sido, nessa última, Presidente da Câmara.A sua atuação na legislatura Mineira foi das mais marcantes e fecundas, destacando-se no plenário com orador de largos recursos e nas comissões de saúde e de orçamento com os seus aprimorados conhecimentos dos assuntos a elas pertinentes.No governo do grande estadista, Dr. João Pinheiro da Silva, passou a ocupar a importante Secretaria das Finanças do Estado de Minas Gerais.Homem público de grande prestigio político e com extraordinária visão de futuro, o Dr. João Bráulio Júnior, antes mesmo de sua viagem a Europa, em missão oficial e extraordinária do governo do Estado de Minas Gerais, já estava indicado pelo PRM, Partido Republicano Mineiro, para ser o sucessor do Dr. João Pinheiro - e com aval desse - na governança do Estado de Minas Gerais.A 23 de julho de 1907. empreendeu viagem a Europa em missão oficial do governo Mineiro para resolver assunto de natureza financeira e, também, para tratamento de saúde.Em principio de 1908, foi operado de antiga enfermidade, em Loussanne, Suíça, pelo famoso cirurgião Dr. Roux.Regressando a Paris mais tarde, com seus familiares, sofreu gravíssimo acidente de automóvel, quando deixava um templo que fora visitar, próximo ao centro da “Cidade Luz”, vindo a falecer, apesar dos socorros médicos, só se salvando a sua esposa, uma filhinha de pouca idade e uma criada que também ocupava o veículo sinistrado.O prestigioso jornal Campanhense, “Monitor sul Mineiro”, em sua edição de 13 de julho de 1908, estampou, com destaque, a seguinte notícia sobre a lamentável ocorrência:“ Despachos telegráficos de Paris dão-nos a triste notícia do horroroso desastre de que foi vitima nosso caro amigo e ilustre conterrâneo, Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior e sua Exma. família, ao sair da Basílica do Sagrado Coração de Jesus, nos arredores de Paris e de seu falecimento em decorrência dos ferimentos recebidos. Dizem ainda os referidos despachos telegráficos que na tarde de 5 do corrente, o Dr. João Bráulio, sua esposa e uma filhinha de pouca idade, conduzida por uma criada, regressando de uma Igreja, de automóvel, quando o pneumático de uma das rodas arrebentou, fazendo com que o veículo capotasse e projetasse ladeira abaixo por uma distância de cerca de 10 metros. Socorridas as vítimas por populares, foram de imediato, recolhidas ao hospital Leviboisiére, onde apesar dos esforços médicos, veio a falecer na tarde desse dia, salvando-se os outros passageiros do veículo”.O já citado jornal “Monitor Sul Mineiro”, de 19 de julho de 1908, dava, com detalhes, as seguintes informações da chegada dos restos mortais do inditoso médico Campanhense:“Como estava anunciado, chegou a bordo do vapor “AVON” o corpo embalsamado de nosso ilustre conterrâneo, Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior, que no dia 5 de julho foi vítima de um desastre de automóvel em Paris. O cadáver do malogrado brasileiro foi acompanhado pela viúva, uma filhinha e mais um filho que estudava na Alemanha.”O veterano “Jornal do Comércio”, de 28 se julho de 1908, dava os seguintes informes sobre a chegada do corpo do Dr. João Bráulio no porto do rio de Janeiro:“A bordo do Paquete Avon , chegou ontem os restos mortais do Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior, acompanhado de sua família. A viúva foi recebida pelo Ministro da Viação , Dr. Francisco Coelho. O féretro foi transladado para a Capela do Arsenal de Guerra, onde ficará até a partida para Belo Horizonte e depois para a cidade de Lambari. O Presidente da República será representado pelo Almirante Alexandrino de Alencar, ministro da Marinha. O presidente do Estado de Minas Gerais, deliberou prestar ao malogrado auxiliar e amigo no governo, as mais vivas demonstrações de pesar, fazendo-se representar na chegada do corpo ao porto do Rio de Janeiro pelos senhores doutores, Alves Pinto, Prefeito de Belo Horizonte, Carvalho Pinto, secretário de Estado, Comissão do Senado Mineiro e Câmara dos Deputados de Minas e outras”Estavam presentes também, representantes das cidades da Campanha e de Lambari.
A morte nos coloca diante da mais simples verdade, a única certeza absoluta que nem mesmo o cético mais obstinado pode duvidar. A dor não cabe em palavras. Só nos resta senti-la.



A morte também é elucidativa. Ela ensina, mostra o quanto somos frágeis e explicita a efemeridade da vida. Não podemos confiar no amanhã, pois nada nos garante que estaremos vivos. No entanto, precisamos nos iludir, pois é insuportável imaginar a ausência do ser no dia que segue. Assim, nos entregamos à rotina e esta nos oferece uma espécie de segurança ontológica. Precisamos acreditar que outro dia virá, que estaremos entre os nossos e eles estarão conosco. Não é tão difícil aceitar a própria finitude, é muito mais doloroso perder o “outro” que nos completa. Até aceitamos a invitabilidade da morte, mas é dilacerante a experiência da partida dos que amamos.

Tarcísio Brandão de Vilhena

tb.vilhena@terra.com.br
http://vilhenatbv.blogspot

Arquivo Público Mineiro
Efemérides Mineiras
Antonio Casadei























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