quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A ATENAS DO SUL DE MINAS

A ATENAS DO SUL DE MINAS

“Refulgiu pelo ouro da terra e pela cultura e pelo o civismo de seus filhos"

Alfredo de Vilhena Valladão

A analise das práticas culturais da elite Campanhense, já sem os recursos do ouro, evidencia e justifica a gênese da metáfora "ATENAS DO SUL DE MINAS”, ao demonstrar Campanha como a cidade privilegiada por políticas públicas de educação, em relação aos demais municípios de Minas Gerais.

Com efeito, um olhar atento e imparcial sobre a cidade da Campanha, desde os tempos do Arraial de São Cipriano, nos coloca diante de uma sociedade preocupada com o sistema educacional, refletido no anseio de seus filhos pelo aprimoramento do ensino.

A extinção da escravatura no Brasil, e a sua repercussão na cidade da Campanha, como de resto, em todo país, causou um forte impacto na vida social e econômica da nação, considerando que a economia do país se sustentava na agricultura. Para quase todos os lavradores da Vila da Campanha, foi um duro golpe. Soma-se a isto a emancipação de vilas que pertenciam à jurisdição da cidade da Campanha, que poderia levá-la a uma grave crise financeira, se não fosse a presença de cidadãos campanhenses na política nacional e no fortalecimento de instâncias ligadas à religião Católica. A cidade pôde se manter muito ativa durante todo o século XIX, principalmente através da produção agrícola e pecuária, além do comércio com o Rio de Janeiro e com São Paulo. O seu território era vastíssimo e suas águas minerais eram procuradas por diversas personalidades para os diversos tipos de doenças.

Além do mais, e principalmente, Campanha tinha uma excelente base educacional que lhe permitiu filhos ilustres tanto no Parlamento como nos executivos estadual e federal.

No ano de 1831, é possível saber da instalação de uma Escola de Ensino Mútuo para Primeiras Letras em Campanha, com mais de 100 alunos.

O método mútuo ou Lancasteriano (método inglês posto em pratica na Índia) difundiu-se no Brasil e temos noticia de que foi de imediato posto em prática na cidade da Campanha, que já previa a instrução pública como dever do Estado, com a finalidade de contemplar um número maior de alunos. Além disso, o método combatia os castigos físicos, comuns à época.

Um dos alunos dessa época na escola de primeira letras, como era chamada, foi o futuro senador Evaristo da Veiga. Os alunos, cujos pais tinham recursos, compravam os livros e os meninos pobres recebiam o material da Câmara ou da Província.

No ano de 1840, o ensino mútuo já estava quase abandonado nas escolas mineiras, seria substituído pelo método simultâneo. A Assembléia Mineira subvencionou a ida de dois professores à França para aprender esse novo método.

Nesse mesmo ano de 1840, um Delegado de Ensino à Vila da Campanha, enviado pelo então Presidente do Estado, Bernardo Jacinto da Veiga, informava em seu relatório que o ensino de Latim, Francês e Filosofia, na cidade da Campanha, era muito bem ministrado, sobrepondo-se aos demais municípios mineiros, e o adiantamento dos alunos era notório e significativo. Nesse mesmo relatório, o Delegado manifesta a necessidade de melhores salários para os professores.

Em 1843, no ensino público secundário em Campanha, a cadeira de Latim era ministrada pelo o padre mestre João Damasceno. Conforme informes da época, o padre João era tido como um grande latinista, e os alunos o tinham como uma espécie de oráculo.

O ensino do latim, segundo depoimento de vários Campanhenses, foi fundamental para muitos daqueles que optaram pelo estudo das ciências jurídicas.

Um fato que deve ser registrado pelo seu aspecto inédito e avançado, considerando a época, em pleno século XIX, é o jornal “O Sexo Feminino”.

O Sexo Feminino é o nome do periódico de propriedade da jornalista da Campanhense Francisca Senhorinha da Motta Diniz, que também editava e redigia o jornal. O primeiro ano de publicação do jornal (1873-1874) foi feito aqui na nossa cidade da Campanha.

Em 1875, Senhorinha Diniz mudou-se para o Rio de Janeiro com uma proposta de trabalho para lecionar na Côrte. A escritora continuou com as edições de O Sexo Feminino, mesmo com a mudança para o Rio. Tratava-se de um jornal direcionado ao público feminino, fato observado logo na capa do veículo, onde se lia: "Especialmente dedicado aos interesses da mulher".

A jornalista escrevia para um público mais intelectualizado e instruído, fato que demonstra o nível cultural da sociedade Campanhense.

Em 15 de novembro de 1874 o editorial do jornal assim expressava:"É tempo de darmos o grito de nossa independência, de nossa emancipação do jugo ferrenho em que até agora vivido, proclamando alto e bem alto a nossa capacidade para certos empregos públicos, e muito principalmente para o magistério onde daremos a mocidade de ambos os sexos educação e instrução".

No ano de 1893, depois de ter cursado a Escola Normal de Campanha e freqüentado o Seminário de Mariana e o famoso Colégio do Caraça, o grande professor Jonas Olinto, "pedagogo de cultura enciclopédica", jornalista e poeta, fundou e dirigiu o seu Externato, e sozinho lecionava as seguintes matérias: Português, Francês, Inglês, Matemática, Geografia e História. Passaram pelos os bancos desse famoso Educandário de ensino primário e secundário várias gerações de estudantes, durante 30 anos.

Interessante observar que, segundo o relato de Francisco de Paula Ferreira de Rezende, fica evidente que as experiências educacionais na Vila da Campanha, particularmente no ensino primário e secundário, não era feitas somente através da educação formal, mas de toda cultura que cerca o indivíduo, fato revelador do elevado nível cultural da Sociedade Campanhense.

O anseio dessa sociedade pelo aprendizado, pelo ensino e pela elevação do nível cultural da cidade se manifesta quando essa mesma sociedade se mobiliza pela criação de um colégio, através de seus mais ilustres representantes que integram o cenário político-administrativo não só do Estado como também do País, e do Emérito Sacerdote, Padre Natuzzi, coadjuvado pelo ilustre campanhense Monsenhor João de Almeira Ferrão, mais tarde primeiro bispo da recém criada Diocese da Campanha e pelos ilustres deputados, Joaquim Leonel de Rezende Filho.

Gabriel Valadão e João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior iniciaram os entendimentos junto à Mere Angelina, que chegara ao Brasil em 1897, nomeada superiora do Colégio de Sion de Petrópolis, com o objetivo de criar em nossa cidade o Colégio de Sion, administrado pelas irmãs dessa recente ordem das Irmãs de Sion, fundada na França, para criação de colégios que ofereciam educação rígida e esmerada para moças. O fato de a França, à época, ditar o modelo de educação, levou a sociedade Campanhense a se interessar pela vinda da irmãs francesas, com intuito de aprimorar o sistema educacional, com oferta do ensino feminino e confessional na cidade e na região Sul Mineira.

Convidada a visitar Campanha, Mère Angelina, acompanhada de sua secretária, irmã Joaquina, chegam à cidade e, tendo dela a melhor impressão, decidem de imediato pela escolha do local para instalação do colégio. Foi escolhido o imóvel que pertencera ao Senador Evaristo da Veiga, no mesmo local onde se encontra as soberbas instalações do Colégio de Sion.

O Colégio, que funcionou entre 1904 a 1965, foi responsável por educar na forma de internato e semi-externato as meninas da elite Sul Mineira (Meninas de Sion), como eram conhecidas e também meninas pobres da região (Martinhas). Manteve uma divisão entre estas duas categorias, já que o tratamento era diferenciado. Preparava as primeiras para exercer papéis de liderança familiar, como boas esposas e mães, como também para exercer a profissão de professoras. Já as meninas pobres eram preparadas essencialmente para o trabalho doméstico.

O Colégio instala-se na cidade como uma forma de fortalecer e ampliar o perímetro de influência da Igreja Católica, com uma nova roupagem e atendendo aos anseios do desenvolvimento do capitalismo.

No ano de 1906, a nova casa de Sion inicia as suas atividades em nossa cidade. Foram muitas as alunas da Campanha e da região Sul Mineira que se matricularam na nova instituição. Citamos aqui algumas Campanhenses do período de 1906 a 1920: Maria das Dores Paiva de Vilhena, Maria Amélia Veiga de Oliveira, Maria do Rosário Paiva de Vilhena, essas três ingressaram na ordem, tornando-se Irmãs de Sion. Maria da Conceição de Vilhena Lisboa, Hilda de Oliveira Ferreira, Ordália de Oliveira Ferreira, Laura Bressane de Azevedo, Dora Ayres, Edite Souza e Silva, Alvarina Silva, entre outras.

Em 1906, Charles Noguères, cidadão francês, junto com o Cônego Joaquim Timóteo Soares, sob a inspiração do Monsenhor João de Almeida Ferrão, fundam o Ginásio Santo Antônio de ensino secundário para rapazes.

Em 21 de abril de 1908, foi instalado o Grupo Escolar da Campanha, denominado Zoroastro de Oliveira. Ao longo de sua existência, o Grupo foi dirigido por importantes personalidades de nossa cidade, como Dr. Júlio Pereira da Veiga, Dona Matilde Mariano, Dr. José Braz Cezarino, Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena, Prof. Júlio Bueno, Dona Maria Conceição de Vilhena Lisboa

Em 1909, Dom Ferrão funda o Seminário Nossa Senhora da Dores, tendo como o seu primeiro Reitor, Monsenhor Joaquim Soares.

Em 1910, sob sábia orientação desse extraordinário Bispo, Dom João de Almeida Ferrão, foi criado o Ginásio Diocesano São João que, em sua longa e gloriosa vida de mais meio século, formou várias gerações de jovens, preparando-os para a vida. Muitos daqueles que passaram por essa instituição se tornaram profissionais capacitados e de renome, nos vários segmentos de suas atividades profissionais.

Em 1915, inaugura-se em Campanha o externato para cursos primário e secundário para rapazes, sob a orientação do Professor Raul Ramos da Costa, auxiliado pelos prefessores Diaulas José de Lemos e Rubens Rezende.

Em 1929, ocorre o restabelecimento da Escola Normal da Campanha, sendo nomeado como seu primeiro Diretor o Prof. Juscelino Teodoro de Aguiar Júnior, que a instalou, tendo sido, em seguida, sucedido pelo Prof. Francisco de Melo Franco.

No ano de 1964, instala-se na cidade o seu segundo Grupo Escolar, que recebeu o nome de Dom Inocêncio, em homenagem ao segundo Bispo da Campanha.

Por último, assinalamos, como merecido destaque, a criação de ensino superior que tanto se orgulha Campanha. Uma instituição radiante e vitoriosa, graças ao idealismo do Campanhense de nobre origem, o Desembargador e Comendador Manoel Maria Paiva de Vilhena, uma bandeira de civismo e de grandeza cultural.

As faculdades Integradas Paiva de Vilhena, são, sem dúvida alguma, a culminância de um processo que, possivelmente, estivesse em gestação no seio da sociedade Campanhense e nasce pelo o idealismo de um obstinado, legítimo representante dessa sociedade, como afirmação de que Campanha sempre foi e será o centro irradiador de cultura e o viveiro dos melhores troncos que povoaram esse abençoado solo Sul Mineiro. Não à toa, ela foi cognominada "a Atenas do Sul.
Tarcísio Brandão de Vilhena
tb.vilhena@terra.com.br
http://vilhena.blogspot.com

Arquivo Púlico Mineiro
Alfredo de Vilhena Valladão
Antonio Casadei
Francisco de Paula Ferreira de Rezende

DESTINO TRÁGICO DE QUATRO MÉDICIS CAMPANHENSES

O DESTINO TRÁGICO DE QUATRO MÉDICOS CAMPANHENSES


A vida reservou a quatro ilustres médicos Campanhenses, filhos de tradicionais e conceituadas famílias da cidade, um destino cruel.O primeiro foi o Dr. Gaspar José Ferreira Lopes, nascido na Campanha em 1817, filho do Comendador e Emérito cidadão, Francisco de Paula Ferreira Lopes, comandante da Guarda Nacional.Dr. Gaspar formou-se em medicina pela Faculdade Médica do Rio de Janeiro, em 1842, com 25 anos de idade, com raro brilhantismo. Tinha talento necessário para vencer na nobre profissão que escolhera.Contudo, a Providência Divina, em seus desígnios insondáveis, não permitiu, porém, que se realizassem essas auspiciosas esperanças. O moço, que no limiar de sua carreira se antevia como promissora e nem sequer chegou exercê-la, foi dura e impiedosamente estigmatizado por uma doença terrível, na época sem cura: a lepra.Ainda viveu por algum tempo isolado no solar de sua família, onde faleceu no dia 14 de março de 1846, aos 29 anos de idade. O segundo a ter um fim trágico foi Dr. Thomaz Henrique Tanner. Após concluir o curso de humanidades na terra natal, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, cujo curso freqüentou com eficiência e assiduidade, formando-se com brilhantismo, no ano de 1859.Após exercer a sua profissão em Campanha, habilitou-se na corte como oficial médico da Marinha Brasileira. Entretanto, não foi feliz o jovem profissional médico Campanhense. A corveta brasileira Dona Isabel, em uma viagem de instrução, naufragou, entre a cidade de Marselha e Lisboa, em conseqüência de um violento temporal, próximo ao cabo Espartel, morrendo 22 oficiais de marinha, 11 membros da equipagem e 2 médicos de bordo, entre os quais o Dr. Thomaz Henrique Tanner. Assim, terminou, de modo tão doloroso, a vida desse jovem médico campanhense.Também foi marcado pelo infortúnio o conceituado médico, Dr. João Dias Ferraz da Luz, Campanhense, integrante de uma família de homens ilustres, famosos pela cultura e pelo caráter.Depois de ter feito os estudos preparatórios na terra natal, matriculou-se Ferraz da Luz na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, formando-se, com raro brilhantismo, em 1844.Clinicou com sucesso e competência em Campanha e foi eleito deputado, em 1857 e 1860, decorrente de seu grande prestígio político.Transferiu-se, anos depois, com a família, para a próspera cidade paulista de Itu, onde se impôs desde logo, à estima e a admiração de todos, como cidadão e profissional competente e, sobretudo, caridoso.No ano de 1870, teve um fim trágico que abalou toda a cidade, ao ser assassinado, ou melhor dizendo, trucidado, juntamente com suas duas filhas, uma senhora idosa e um escravo doméstico, pelo o seu outro escravo doméstico de nome Nasário, a golpes de machado.A multidão revoltada e enfurecida, da pacata cidade de Itu, arrancou da prisão o monstruoso assassino e o linchou sem hesitação e piedade.Outro médico campanhense, Ciro Sales Brandão, meu primo, trineto do Comendador Francisco de Paula Ferreira Lopes, filho de João Chrisóstomo Ferreira Brandão e Dona Ana Sales Brandão, a Donana, educadora exemplar, que por vários anos lecionou com extrema e modelar dedicação no Grupo Escolar Zoroastro de Oliveira. Foram várias as gerações de alunos que passaram pela dedicada Donana.Ciro, como era conhecido, após concluir seus estudos em Campanha, foi para Rio de Janeiro, onde fez o curso preparatório, ingressando, posteriormente, na faculdade de Medicina da Praia Vermelha, da Universidade do Brasil, após ser aprovado no exame de seleção. Mal tendo chegado a clinicar, foi acometido de um tumor no cérebro, vindo a falecer ainda jovem, no Rio de Janeiro, onde foi operado.

Outro grande médico Campanhense colhido pela fatalidade foi o ilustre Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior, nascido a 23 de junho de 1860, filho do insigne Desembargador João Bráulio Moinhos de Vilhena e de dona Manoela Augusta Capistrano de D'Alkmim de Vilhena.
Por se tratrar de meu avô paterno, trancrevo aqui o texto sobre o Dr. João Braulio Júnior, escrito pelo saudoso amigo, Dr. Antonio Casadei.

Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1886, além de profissional de reconhecida competência, era jornalista brilhante, político de grande prestigio, orador fluente e parlamentar respeitado e atuante.Em 1893, foi eleito deputado, tomando parte na sessão legislativa desse ano e do seguinte do Congresso do Estado de Minas Gerais. Voltou a ser eleito nas legislaturas de 1903 e 1906, tendo sido, nessa última, Presidente da Câmara.A sua atuação na legislatura Mineira foi das mais marcantes e fecundas, destacando-se no plenário com orador de largos recursos e nas comissões de saúde e de orçamento com os seus aprimorados conhecimentos dos assuntos a elas pertinentes.No governo do grande estadista, Dr. João Pinheiro da Silva, passou a ocupar a importante Secretaria das Finanças do Estado de Minas Gerais.Homem público de grande prestigio político e com extraordinária visão de futuro, o Dr. João Bráulio Júnior, antes mesmo de sua viagem a Europa, em missão oficial e extraordinária do governo do Estado de Minas Gerais, já estava indicado pelo PRM, Partido Republicano Mineiro, para ser o sucessor do Dr. João Pinheiro - e com aval desse - na governança do Estado de Minas Gerais.A 23 de julho de 1907. empreendeu viagem a Europa em missão oficial do governo Mineiro para resolver assunto de natureza financeira e, também, para tratamento de saúde.Em principio de 1908, foi operado de antiga enfermidade, em Loussanne, Suíça, pelo famoso cirurgião Dr. Roux.Regressando a Paris mais tarde, com seus familiares, sofreu gravíssimo acidente de automóvel, quando deixava um templo que fora visitar, próximo ao centro da “Cidade Luz”, vindo a falecer, apesar dos socorros médicos, só se salvando a sua esposa, uma filhinha de pouca idade e uma criada que também ocupava o veículo sinistrado.O prestigioso jornal Campanhense, “Monitor sul Mineiro”, em sua edição de 13 de julho de 1908, estampou, com destaque, a seguinte notícia sobre a lamentável ocorrência:“ Despachos telegráficos de Paris dão-nos a triste notícia do horroroso desastre de que foi vitima nosso caro amigo e ilustre conterrâneo, Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior e sua Exma. família, ao sair da Basílica do Sagrado Coração de Jesus, nos arredores de Paris e de seu falecimento em decorrência dos ferimentos recebidos. Dizem ainda os referidos despachos telegráficos que na tarde de 5 do corrente, o Dr. João Bráulio, sua esposa e uma filhinha de pouca idade, conduzida por uma criada, regressando de uma Igreja, de automóvel, quando o pneumático de uma das rodas arrebentou, fazendo com que o veículo capotasse e projetasse ladeira abaixo por uma distância de cerca de 10 metros. Socorridas as vítimas por populares, foram de imediato, recolhidas ao hospital Leviboisiére, onde apesar dos esforços médicos, veio a falecer na tarde desse dia, salvando-se os outros passageiros do veículo”.O já citado jornal “Monitor Sul Mineiro”, de 19 de julho de 1908, dava, com detalhes, as seguintes informações da chegada dos restos mortais do inditoso médico Campanhense:“Como estava anunciado, chegou a bordo do vapor “AVON” o corpo embalsamado de nosso ilustre conterrâneo, Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior, que no dia 5 de julho foi vítima de um desastre de automóvel em Paris. O cadáver do malogrado brasileiro foi acompanhado pela viúva, uma filhinha e mais um filho que estudava na Alemanha.”O veterano “Jornal do Comércio”, de 28 se julho de 1908, dava os seguintes informes sobre a chegada do corpo do Dr. João Bráulio no porto do rio de Janeiro:“A bordo do Paquete Avon , chegou ontem os restos mortais do Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior, acompanhado de sua família. A viúva foi recebida pelo Ministro da Viação , Dr. Francisco Coelho. O féretro foi transladado para a Capela do Arsenal de Guerra, onde ficará até a partida para Belo Horizonte e depois para a cidade de Lambari. O Presidente da República será representado pelo Almirante Alexandrino de Alencar, ministro da Marinha. O presidente do Estado de Minas Gerais, deliberou prestar ao malogrado auxiliar e amigo no governo, as mais vivas demonstrações de pesar, fazendo-se representar na chegada do corpo ao porto do Rio de Janeiro pelos senhores doutores, Alves Pinto, Prefeito de Belo Horizonte, Carvalho Pinto, secretário de Estado, Comissão do Senado Mineiro e Câmara dos Deputados de Minas e outras”Estavam presentes também, representantes das cidades da Campanha e de Lambari.
A morte nos coloca diante da mais simples verdade, a única certeza absoluta que nem mesmo o cético mais obstinado pode duvidar. A dor não cabe em palavras. Só nos resta senti-la.



A morte também é elucidativa. Ela ensina, mostra o quanto somos frágeis e explicita a efemeridade da vida. Não podemos confiar no amanhã, pois nada nos garante que estaremos vivos. No entanto, precisamos nos iludir, pois é insuportável imaginar a ausência do ser no dia que segue. Assim, nos entregamos à rotina e esta nos oferece uma espécie de segurança ontológica. Precisamos acreditar que outro dia virá, que estaremos entre os nossos e eles estarão conosco. Não é tão difícil aceitar a própria finitude, é muito mais doloroso perder o “outro” que nos completa. Até aceitamos a invitabilidade da morte, mas é dilacerante a experiência da partida dos que amamos.

Tarcísio Brandão de Vilhena

tb.vilhena@terra.com.br
http://vilhenatbv.blogspot

Arquivo Público Mineiro
Efemérides Mineiras
Antonio Casadei























PERSONALIDADES CAMPANHENSES NO DE 1.912

Pg. 70. Seção 1. Diário Oficial da União (DOU) de 30/10/1912




DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO
ANO DE 1.912

Foi sempre tradição na cidade Campanha o notável gosto pelas letras, o que motivou o grande número de filhos da cidade graduados pelos cursos superiores do país. O ensino de humanidades completo se difundia por todas as camadas sociais, ao ponto em que até as pessoas de condição humilde sabiam a fundo a língua latina.Neste aspecto, suponho que nenhuma cidade do interior superou Campanha durante o período Imperial.
O engenheiro militar, Dr. Francisco Xavier Lopes de Araujo, Barão de Paríma, não foi político, não realizou negociações diplomáticas, não firmou tratados. Era um técnico e, nesta condição, serviu nas fronteiras. Possivelmente, ninguém tivesse tido maior numero de comissões desta natureza. Percorreu a linha de nossas fronteiras em diversos de seus trechos.Presidiu a comissão brasileira de limites com o Uruguai e, mais tarde, como chefe das respectivas comissões mistas, serviu na demarcação de nossos limites com o Paraguai e do extremo norte do Brasil, ao definir as fronteiras com a Bolívia e com a Venezuela.
Pelos relevantes e extraordinários serviços pais, foi agraciado com o título de Barão de Parima.
Na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1827, dos quatro estudantes mineiros que ali se matricularam, três eram da Campanha: o Dr. Tristão Antonio de Alvarenga, o Dr. José Christian Garção Stockler e o Dr. Cyrino Antonio de Lemos.
E, cada vez mais,os filhos da Campanha tiveram entrada nos cursos superiores, espalhando-se por todos diversos ramos das profissões liberais e muitos haviam de conquistar renome, não só em Minas, como em todo pais.
Na literatura, a figura proeminente é a do Dr. Américo Lobo, que deixou diversas poesias líricas e outros trabalhos importantes. Traduziu as Buccolicas de Virgilio, o Tartufo de Mo-Here e a Evangelina de Longfellow. Essas duas ultimas traduções constituem verdadeiras obras-primas.
O Dr. Simplício de Saltes que, infelizmente, pouco sobreviveu à sua formatura, conquistou enorme reputação literária na Faculdade de São Paulo, que Couto Magalhães fez à sua biografia com os maiores elogios.
Xavier da Veiga pontificou na imprensa de Minas, onde redigiu a Província; e, nele, o literato se aproximava do público.
O Dr. Francisco Honório Ferreira Brandão, redator do Colombo, mostrava urna solida cultura e um estilo primoroso.
No Monitor Sul Mineiro, o Dr. Evaristo da Veiga, de uma imaginação fecunda, deixou páginas inolvidáveis, e o Dr. Saturnino da Veiga escrevia com elegância.
Na imprensa, o Dr. Stockler o e o Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior fizeram extraordinária obra literária. Stoekler tanto se revelou um polemista vibrante, como um fino humorista, e em João Braulio Júnior predominou a sua alma de poeta que a todos encantava. Médico de reconhecida competência, jornalista brilhante, político de grande prestígio, orador fluente, parlamentar respeitado e atuante, e secretário de estado.
Na geração mais nova, surge o Dr. Veiga Miranda, com promissores trabalhos poéticos e literários. Nos estudos históricos, Xavier da Veiga deixa obra vasta. São deles as Ephemerides Mineiras, em que ele consumiu as suas energias e nelas encontram-se importantes elementos para a História de Minas. Além disso, organizou o Arquivo Público Mineiro.
Perdigão Malheiros escreveu o apreciado trabalho da história do Brasil, de 1500 até 1819. Dr. Francisco de Paulo Ferreira de Rezende deu á publicidade interessantes estudos histórico. O Comendador Bernardo Saturnino da Veiga, depois de uma longa excursão pela vasta região Sul Mineira escreveu o Alfonte Sul Mineiro,
O Dr. Francisco Lobo tem diversos trabalhos de grande merecimento, como a Busca das Esmeraldas, Descobrimento e devastação do Território de Minas Gerais e o romance Tio Espedito de Espinosa.São trabalhos de muita investigação, e escritos com o maior escrúpulo.
Julio Bueno, operoso escritor, redige o Almanaque da Campanha, por incumbência do infatigável redator do Monitor Sul Mineiro, o Sr. José Pedro da Costa.
Nas ciências jurídicas e sociais, a maior figura é o Dr. Perdigão Malheiros. Além de ter sido o grande jurisconsulto da Emancipação, foi também um dos maiores jurisconsultos do Brasil. Presidiu, durante cinco anos, o Instituto dos Advogados do Brasil, e depois foi Presidente honorário desse mesmo Instituto. Produziu, ainda, o Manual do Procurador dos Feitos da Fazenda;
O Dr. Francisco Veiga, professor da Faculdade de Direito de Minas, foi redator da Resenha Jurídica. O seu reconhecido preparo em assunto de direito é versado em matéria de finanças, e sendo uma respeitável figura, presidiu por muitos anos, a Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados.
João Pedro da Veiga Filho, professor da Faculdade de Direito, e Diretor da Escola de Comércio de São Paulo, publicou o Manual da Ciência das Finanças, obra clássica sobre o assunto. E escreveu, além disto, uma longa série de interessantes monografias sobre assuntos econômicos e financeiros. A sua obra foi vasta. Foi uma autoridade sobre estes assuntos e acatada em todo o país.
O Dr. Gabriel de Rezende, professor dos mais ilustres da Faculdade de S. Paulo, com diversos trabalhos raros.
Estevão Lobo, professor da Faculdade de Direito de Minas Gemes, gozava de grande reputação Era um estudioso do direito. Publicou monografia sobre a autoria coletiva e cumplicidade, e deixou esparsos, pelos jornais e revistas, da época. Produziu outros trabalhos de valor, como Criminalidade Juvenil, culminando em sua atuação parlamentar, onde elaborou trabalhos eruditos na organização das Leis de Minas.
Alfredo de Vilhena Valladão, além de ter sido jornalista, foi Professor da Faculdade de Direito de Minas Gerais e da Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Foi 1º Vice-Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Em 1905, como representante do Ministério Público, foi nomeado para o Tribunal de Contas da União, órgão recém-instituído pela Constituição de 1893, dedicando-se a escrever trabalhos de doutrina sobre os principais temas do Tribunal, formulando as reformas que se faziam necessárias na Jurisprudência.
Em 1908, fez parte do Congresso Jurídico Brasileiro, sustentando na Seção de Direito Civil a doutrina de unificação do Distrito Privado. Na Seção de Direito Comercial, manifestou-se contrário à atribuição conferida pela Carta Magna de 1891 aos Estados, de legislarem sobre o Direito Processual. Jurista de elevada competência, foi nessa área o autor do "Projeto do Código de Águas e da Indústria Hidroelétrica", contando também, entre suas obras, com "Rios Públicos e Particulares", "Direito das Águas" e "Ministério Público". Como historiador, publicou "Campanha da Princesa", "Da Aclamação à Maioridade", "Vultos Nacionais" e "Brasil e Chile na Época do Império, Amizade sem Exemplo". Pelos relevantes serviços prestados ao país, teve seu nome inscrito no Livro do Mérito, tendo recebido a Ordem da Inconfidência de Minas Gerais e a Ordem do Mérito do Chile
Dr. Muller de Campos, foi professor da Escola Militar e depois General Chefe das fortificações da República
Eugênio Vilhena de Morais, Professor, Escritor, Poeta e Diretor do Arquivo Nacional
Martiniano da Silva dos Reis Brandão, foi Diretor de Óbras Públicas em Minas Gerais

Nas ciências médicas, o Dr. Vital Brazil descobriu o soro antiofídico e dirigiu em São Paulo o modelar Instituto de Butantã. Também devem ser destacados os drs. Francisco Honório Ferreira Brandão, Mathias Antonio Moinhos de 'Vilhena e Rodolpho Vilhena de Morais, três renomados médicos que se impuseram pela competência no exercício da medicina.
Na carreira eclesiástica, distinguiram-se como pregadores os Vigários João de Deus e o Cônego José Theophilo Moinhos de Vilhena que, não só pelo conhecimento, mas também por suas virtudes, chegaram às altas dignidades da Igreja.
Dom Francisco da Silva, Arcebispo do Maranhão. Dom João de Almeida Ferrão, Bispo da Campanha.
Monsenhor Paulo Emílio Moinhos de Vilhena, Vigário Geral da Diocese da Campanha, Protonatario Apostólico e Administrador Apostólico da Diocese. Iniciou seus estudos em Campanha e, aos 19 anos, foi para o Seminário de Mariana, nessa época funcionando no Caraça, tendo sido ali matriculado em 5 de outubro de 1865. Estudou Filosofia, Escolástica, Teologia Moral e Dogmática, Direito Canônico, Hermenêutica, Liturgia e Eloqüência Sagrada. No dia 4 de junho de 1871, no Santuário do Caraça, recebeu as ordens sacerdotais das mãos de Antonio Ferreira Viçoso, Dom Viçoso, Bispo da Diocese de Mariana.
Na magistratura, houve três grandes figuras: o Dr. Ferreira de Rezende, o Dr. Américo Lobo e o Dr. João Braulio Moinhos de Vilhena.
Ferreira de Rezende teve assento no Supremo Tribunal Federal, mas a sua figura não se revelou por completo; viram-no, apenas, a linha austera e seu caráter. Ele chegou enfermo e faleceu logo depois.
Américo Lobo foi também ministro do Supremo Tribunal Federal. João Braulio Moinhos de Vilhena ficou em Minas, onde fez toda a sua carreira de magistrado, em que alcançou a suprema investidura. Não chegou ao Supremo Tribunal Federal, tendo declinado do convite que lhe fora feito, alegando motivos pessoais. Entretanto, ninguém elevou mais alto a Justiça no país, quer pela lucidez, quer pela retidão de suas sentenças. Dir-se-ia que João Braulio era a própria encarnação da Justiça, serviu-a em todos os gráos; e, durante vinte e um anos, presidiu o Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Transcrição do Diário Oficial da União de 30 de outubro de 1912

Arquivo Público Mineiro.


Como Campanhense que sou e que conheço nossa gente, nossas raizes, sei que os exemplos são inúmeros e se fôssemos homenagear todos todos Camapnhenses que o fazem por merecer, precisariamos redigir um livro, ao invés de uma sucinta matéria. Porém, mais importante que os nomes, nesse caso, é a origem, a fonte de cultura na qual todos beberam e que fez com que eles alçassem vôos tão altos na história não só de nossa cidade, mas do país.É essa fonte que hoje celebro, através dessas linhas, e cuja recordação devemos manter sempre viva. Mais do que isso: devemos ter orgulho da veia humanística e literária da Cmpanha, e dos valorosos filhos que ela produziu, do Império até os dias atuais.

Tarcísio Brandão de Vilhena

tb.vilhena@terra.com.br
http://vilhenatbv.blogspot.com














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Atualizado em 05/09/2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CAMPANHA SEDE ADMINISTRATIVA DA "MINAS DO SUL"

O separatismo foi um fenômeno político ocorrido no Sul de Minas Gerais, dadas as condições históricas, econômicas e sociais da Região. Durante o século XIX, diversos projetos de criação de uma província Sul Mineira foram apresentados ao Senado Imperial, a destacar os de 1843, 1854, 1862, 1868, e 1884. Os representantes do Separatismo Sul Mineiro no Parlamento eram provenientes da cidade de Campanha, importante centro político e cultural da região.


  • Por seu gigantismo territorial e por sua organização política baseada nas desigualdades regionais de poder, Minas Gerais esteve sujeita a várias ameaças de separatismo ao longo de sua história. Dentre as regiões mineiras, o Sul manifestou tendências separatistas bastante acentuadas ao longo do século XIX.

Nesse contexto, a cidade da Campanha afirmou-se como importante localidade propagadora de idéias separatistas no Sul de Minas Gerais. Nela surgiram vários jornais e projetos parlamentares que tinham como aspiração comum o desmembramento do território sul-mineiro e a criação de uma nova unidade administrativa naquela região.

O surgimento e o desenvolvimento das idéias separatista na região decorrem de dois fatores básicos: o político e o econômico. Durante a primeira metade do século XIX, o Sul de Minas foi a principal região cafeeira e agroexportadora do Estado. Sua prosperidade econômica, todavia, não coincidia com sua pequena expressividade política nos níveis provincial e nacional, dado o número reduzido de deputados sul-mineiros na Assembléia Provincial e na Câmara dos Deputados na Corte. As idéias separatistas surgiram e se desenvolveram no Sul de Minas Gerais a partir de um enorme desnível entre os poderes econômico e político da região, dentro do contexto estadual.

Outro fator que não pode ser negligenciado na compreensão do separatismo sul-mineiro é o da condição geográfica. Por ser uma região limítrofe entre Minas Gerais e São Paulo, foi área de intenso trânsito comercial e alvo de várias disputas interregionais durante o século XVIII. O antigo interesse paulista pela região não se arrefeceu com o tempo, pelo contrário, ganhou força com a situação política desencadeada pelo movimento liberal de 1842. Isso porque, o movimento liberal havia incutido em alguns políticos conservadores o temor de que Minas Gerais viesse a se constituir em uma grande província central e que, com o seu enorme contingente populacional e a sua capacidade em mobilizar recursos nacionais viessem desestabilizar a ordem em outras regiões nacionais. Com a ascensão do Partido Conservador ao poder, a partir de meados da década de 1840, houve estímulo ao surgimento de propostas de desmembramento do extenso território de Minas Gerais.

Antes, porém, é necessário analisar a imprensa separatista sul-mineira, cujo representante de maior vulto foi o jornal "O MONITOR SUL MINEIRO". Dentre as formas de comunicação e o exercício do poder político, a imprensa é talvez aquela que exerça maior influência na sociedade, pois, nas palavras do escritor francês Victor Hugo, "o diâmetro da imprensa é o diâmetro da própria civilização".

Cumpre destacar que a imprensa Campanhense foi o principal agente divulgador da causa do separatismo. Em Campanha, foram impressos os principais jornais separatistas da região como "O OPINIÃO CAMPANHENSE", "NOVA PROVÍNCIA", e o "SUL DE MINAS", todos de propriedade de Bernardo Jacindo da Veiga e de Lourenço Xavier da Veiga. Esses dois irmãos, egressos do Rio de Janeiro, se estabeleceram na cidade de Campanha em 1818, como livreiros e jornalistas.

Em trabalho acerca de alguns grupos familiares que compuseram a elite regional sul-mineira, Marcos Ferreira de Andrade afirma que os homens da família Veiga foram figuras públicas e políticas que souberam se servir muito bem da palavra impressa para enaltecer as qualidades do Sul de Minas Gerais de maneira a justificar a independência administrativa desta região. De fato, as idéias separatistas aparecem com freqüência nas páginas dos jornais e almanaques publicados pelos irmãos Veiga e seus descendentes na cidade da Campanha ao longo do século XIX.

Em 1842, o deputado Dr. Evaristo da Veiga apresentou, sem êxito, o projeto de lei que dividia Minas Gerais em duas partes e criava uma nova província com denominação de "MINAS DO SUL". A esse projeto seguiram-se outros semelhantes, apresentados pelos deputados Américo Lobo Leite Pereira em 1843, e pelo Dr. Olimpio Oscar de Vilhena Valladão. Àquela época, a cidade da Campanha era importante localidade propagadora das idéias separatistas no Sul de Minas, além de protagonistas nos debates parlamentares acerca da separação. Eram de Campanha os três deputados anteriormente citados, cujos projetos tiveram os seus respectivos textos integrados aos anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão.

A cidade de Campanha foi escolhida como sede da nova Unidade Administrativa de "MINAS DO SUL". Como se isso não bastasse, era Campanha "um dos mais inexpugnáveis baluartes do Partido Conservador", o que lhe garantia posição privilegiada no contexto político do Segundo Reinado.

A 1º de janeiro de 1872, Bernardo Saturnino da Veiga, um dos filhos de Lourenço Xavier da Veiga, fundou o Monitor Sul Mineiro, jornal que conquistaria notoriedade na imprensa mineira por ser um dos mais importantes arautos do separatismo no Sul de Minas Gerais. Dele, Alfredo de Vilhena Valladão nos oferece uma descrição de contemporâneo: "Nas instrutivas, patrióticas e noticiosas colunas deste grande órgão, o Monitor Sul Mineiro, se defendiam as melhores causas e se derramavam úteis conhecimentos. E ainda questões políticas, que tanto apaixonadamente eram ali tratadas sempre com superioridade, dominando sempre o espírito de moderação de idéias e de linguagem, como programa estabelecido. [...] não seria preciso significar, os interesses locais da Athenas Sul Mineira, sobre os variados aspectos, culturais, morais e materiais, eram especial, brilhante e carinhosamente defendidos sempre em suas colunas, bem como o interesse de toda aquela região em geral".

Além das características acima elencadas, "há que se destacar a epígrafe daquele jornal: “LEMOS NO PRESENTE, SOLETRAMOS NO FUTURO". Nesta sentença está contido o ideal máximo do Monitor Sul Mineiro, bem como da imprensa oitocentista em geral, qual seja o registro de idéias que, por sua importância política e histórica, deveriam ser lembradas – e soletradas – no futuro, quando já não houvesse mais suporte de papel no qual lê-las - as idéias separatistas exemplificavam bem tal máxima"

O programa político do Monitor Sul Mineiro pautava-se pela promoção do progresso e da civilização – idéias tipicamente oitocentistas– no Sul de Minas Gerais". Na opinião dos seus redatores, a criação da nova província de Minas do Sul apresentava-se como um indiscutível pressuposto para o progresso da região, de vez que a emanciparia da administração centralizadora de Ouro Preto através da transferência do poder regional para a cidade da Campanha.

É importante, porém, ressalvar, que a orientação política do Monitor Sul Mineiro era conservadora e, por isso mesmo, contrária às propostas radicais de separação. Destarte, Minas do Sul deveria ser criada de forma gradual e de acordo com os princípios legais, em respeito ao "status quo imperial".

"A proposta legalista de separação apresentada pelo Monitor Sul Mineiro foi sendo relegada à proporção do desgaste do partido conservador bem como da ordem política por ele sustentada. Neste sentido, o ocaso do Império a difusão das idéias republicanas e federalistas deram ensejo ao surgimento de novas concepções de separação do Sul de Minas Gerais".

Com o advento da República no Brasil, na última década do século XIX, as rivalidades entre as regiões mineiras se aguçaram, de tal forma, que o governo de Minas Gerais se viu obrigado a adotar uma política de conciliação entre as diversas facções republicanas regionais. Entretanto, tal medida foi insuficiente para acalmar os ânimos exaltados dos republicanos sul-mineiros nem para dissipar as idéias de criação do novo estado de Minas do Sul.

Assim, a 31 de janeiro de 1892, eclodiu na cidade da Campanha o movimento separatista sul-mineiro. Sob a liderança de políticos locais, o movimento contou com o apoio de mais de uns poucos municípios circunvizinhos à cidade da Campanha, como São Gonçalo do Sapucaí, Três Corações do Rio Verde e Cambuí (VALLADÃO, 1942, p. 360). Mesmo assim, a Junta Governativa instalada na cidade da Campanha, cuja figura de proa era o Dr. Martiniano da Silva Reis Brandão, engenheiro e membro do Partido Republicano Mineiro (PRM), deliberou oficialmente no Sul de Minas Gerais até meados de março de 1892, quando forças estaduais e federais puseram fim ao movimento.

Durante dois breves meses, o sonho da separação parecia haver se tornado realidade para seus idealizadores, como atestam as palavras do jornal Minas do Sul: "Minas do Sul existe enfim! Concretizou-se a perene aspiração de meio século, - nossa e de nossos maiores".

"Não há, no mais recôndito recanto do território d’aquém rio Grande, um coração que não pulse uníssono conosco, no contentamento pela realização do nosso sonho com, no entusiasmo pela previsão do esplêndido futuro que nos aguarda". (MINAS DO SUL, 19/02/1892, p.01)

Tarcisio Brandão de Vilhena
tb.vilhena@terra.com.br
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Fontes consultadas:

Francisco de Paula Ferreira de Rezende - Minhas Recordações

Alfredo de Vilhena Valladão - Campanha da Princesa - vols I e II

  1. Pérola Maria Goldfeder e Castro - Pós graduada em Cultu